No sentido em que o Pai Natal, o menino Jesus e as outras personagens dos desenhos animados são reais. Nos nossos corações, que é onde interessa.
Hoje acordei nos Estados Unidos. Não nos estados todos claros. Por muito unidos que sejam ou, más línguas dirão, muito gordo que esteja eu, ainda só consigo estar num de cada vez. Mais precisamente no de Pennsylvania, na cidade de Philadelphia. "The city of brotherly love" como lhe chamam. Não vou aproveitar para lançar insinuações fáceis sobre este slogan porque, sinceramente, já somos crescidinhos.
Sisterly love, on the other hand....
O facto a assinalar nesta história é que os Americanos não gostam de estrangeiros. Supostamente porque têm medo de apanhar doenças como a imigração, socialismo, futebol ou esse flagelo da sociedade moderna que é a noção de que existe um mundo exterior. E não há quem simbolize esse espírito como um oficial de alfândega num aeroporto americano. Suponho que um franzir de sobrolho e um olhar de reprovação logo à entrada é suficiente para mandar maior parte dos estrangeiros de volta para casa com o rabo entre as pernas e os seus vícios comunistas na mala.
... to GO AWAY!!
Mas não eu. Não. Este honorável homem da estrada com nome de rei não se encolhe tão facilmente. Por isso enfrentei aquele homem de proporções generosas e sorriso draconiano com estóica resolução.
E oh meu amigo, o que não poderias fazer pelo teu país com um "Well good day, sir! How are you on this lovely evening? Everything fine with the family? Would you like something to drink? How about a nice cup of american coffee with a side of hug and kisses?" em vez do francamente desagradável "Come here!"
Hmm, ok. Não me podem culpar pelos meus actos daqui para a frente.
"What is the purpose of your visit to the United States today, sir?".
Foi com um toque de tristeza que eu notei a enfâse irónica no "sir". Ainda a recuperar do choque de ter as minhas noções de hospitalidade violadas num beco escuro do espíritio humano, debati-me com a resposta a uma pergunta que não estava à espera. Uma vez que o "hádes ter muito a ver com isso, hádes" não só é gramaticamente incorrecto como particularmente pouco inglês, acabei por ficar por um:
"Er... hmmm...wha?"
"What are you doing here in the US?"
Que se lixe.
"Why sir, your mom of course!"
Em retrospectiva, acho que não foi a resposta politicamente correcta que esperavam de mim. Mas não é disso que me arrependo mais. Arrependo-me de :
1) Não considerar a hipótese do momento linear de um funcionário de alfândega de 120kg a correr pelo terminal de um aeroporto ser extremamente impróprio para a saúde da minha coluna vertebral
2) Não ter lido a constituição americana antes de embarcar nesta viagem. Aparentemente, "pleading the fifth" só é uma estratégia de defesa aceitável quando se é americano. E é muito menos quando em vez da quinta emenda se invoca a segunda. Sim, "the right to bear arms". Pelos vistos não a vêm com bom olhos quando é invocada por um estrangeiro de aspecto terrorista e tendências psicóticas.
The right to bear arms
Agora, aqui fechado nesta sala, vejo-os a falar lá fora e ouço muitas vezes a palavra "deportação". Não sei, mas vou pensar o pior e assumir que isso quer dizer que me vão impedir de continuar a ser adepto do Porto. Não sei se estou preparado para viver dessa forma. Sinceramente, preferia que me mandassem de volta para Portugal.
Ei, olha, já só falta 1h das 4 que tive de ficar a secar em Philadelphia! Sozinho com os meus pensamentos. Brrrh
1 comentário:
quero um iPad como souvenir dos States =)
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