quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Novo

Normalmente diz-se que o modo como começas o ano no dia 1 de Janeiro, à meia noite, determina como vai correr o resto do ano. Eu não acredito nisso. Acredito que o modo como acabas o ano no dia 31 de Dezembro, à meia noite, determina como correram os 364 dias anteriores. Sendo assim, se às 24:00 de hoje estiver sóbrio considero que este ano foi um fracasso total.

A minha primeira resolução de ano novo: levantar-me da cama, tirar a agulha do soro do braço e sair das urgências do hospital pela janela do quarto, sem pagar a taxa moderadora. razor's edge

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Lamas

Há algo de extraordinário nas pequenas freguesias de Portugal.

Hoje fui ao barbeiro, e sim fazer o mesmo corte que faço à 23 anos. Discuti a seriedade profissional do Pedro Henriques (uma conversa de um sentido, que não se pode discutir com benfiquistas), ouvi sérias ofensas à mãe do primeiro ministro e a conversa sempre animadora do isto-vai-de-mal-a-pior. Enquanto isso, de um rádio em forma de lata de pepsi, ouvia-se a reza do terço na Rádio Renascença. Folclórico, mas nada tão espectacular como a imagem com que me confrontei quando saí: um Fiat Punto (ou algo igualmente foleiro, não percebo muito de carros), de certeza acima do limite de velocidade em localidades, com uma faixa "Made in Fiães" no pára-brisas, de vidros abertos e música em altos berros. A música era, e não estou a mentir, esta.

Tenho pena das pessoas que vivem em cidades.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Natal


Coincidência? Eu acho que não.

P.S: Pago um lanche a quem me conseguir explicar o pico nos finais de Maio.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

História Verídica

Hoje fui assaltado pela primeira vez.

As expectativas eram altas, tinha ouvido falar muito bem da experiência e tinha medo de ficar desiludido, mas felizmente estivemos ambos à altura do acontecimento.

Já agora, não aconselho ninguém, numa sexta-feira à uma da manhã, a passar em frente ao ISCA com portátil numa mão, telemóvel na outra, e ar de quem quer ser roubado e não vai fazer muito para o impedir. Pensei que a minha barba de 2 semanas e as calças que nunca foram lavadas ainda pudessem dissuadir mas a t-shirtzinha azul e o casaquinho de malha não enganam ninguém. Era hoje.

Vi alguém a aproximar-se rapidamente por trás de mim. Virei-me e a minha primeira impressão é que até nem tinha ar de maltrapilha. Era um bocado lingrinhas e ainda pensei: "Pfff, ele que tente, chego para 10 dele".

"Dá-me o dinheiro todo que tens na carteira. É que é já."

Uma entrada forte pensei eu. Nem um olá. A construção frásica também não primava pela elegância, mas que se lixe pensei eu. Era a festa dele e eu era só um convidado. Um convidado forçado é verdade, mas ao menos a comida devia ser boa - picadinho de sousa.

"Só quero o dinheiro na carteira. Mais nada."

Ah, ainda bem. Não devia ligar muito às novas tecnologias. O meu portátil e telemóvel (aberto na minha mão) estavam a salvo por enquanto. E eu que já me estava a preparar para lhe atirar 5 quilos de fúria Hewlett-Packard à testa - na realidade pôr-me de joelhos e apelar ao seu estudante universitário interior que tem todo o trabalho de 6 anos em discos magnéticos dentro de um pedaço de plástico - uma mentira também.

Até aqui tudo bem. Peguei na carteira e remexi no interior, num gesto fútil porque sabia perfeitamente que não tinha lá absolutamente dinheiro nenhum, ou não tinha passado o dia todo a chular as pessoas para me pagarem cafés e lanches.

"Não tens nada?"

Dei-lhe a carteira para a mão para poder verificar por si. Como se eu fosse capaz de mentir a um perfeito estranho que desafia as minhas noções sobre o direito à propriedade.

Ele bem procurou entre os meus talões do minipreço para bebidas alcoólicas e amendoins, facturas da copypronto e bilhetes de comboio aveiro-esmoriz, mas o dinheiro não nasce do nada - pelo menos para a maioria de nós. Juro que por momentos debateu-se com uma senha da cantina. Deve-lhe ter passado pela cabeça que ia ser gozado por toda a gente no sindicato se fugisse com isso e abandonou a ideia.

Começava a achar que a coisa ia correr mal. Lembrei-me então que tinha ainda o troco de 1 euro por um croissant com creme no bolso das calças. "Só tenho isto. Até me sinto mal." - As minhas palavras exactas enquanto lhe entregava o conjunto mais reles de moedas que me passaram pelas mãos. Não me lembro bem, mas acho que ele as aceitou. Começava sinceramente a sentir pena do rapaz.

Por esta altura já dava passos miudinhos para trás, para o caso de precisar de fugir de alguma coisa afiada, mas tinha afinidade à carteira e não a ia deixar assim sozinha.

"Não te preocupes que não te vou aleijar"

O que eu precisa de ouvir. Relaxei logo e até acabei por soltar um bocejo enquanto ele revirava as entranhas da minha carteira. Pouco profissional da minha parte e por isso peço-lhe desculpa.

"Quanto tens aqui?" - perguntou enquanto segurava o meu cartão de débito.

"Oh caralho" pensei eu. Não convinha nada responder a essa pergunta com "230 euros" e optei pela menos honesta "Eh pá, não sei... desculpa".

"Vamos ver isso então. Depende de quanto tiveres."

Claro que tinha que ser assaltado no ISCA, convenientemente ao lado de uma caixa multibanco.

Não o podia ter a meter o nariz nas minhas contas privadas e apercebi-me que era altura de ligar o charme.

"Então quanto é que queres?" - perguntei eu.

"Er.. o qu... eh... 50 euros deve dar." - respondeu.

"Ok. Tá-se bem."

50 euros? Nada mau. Se calhar devia regatear. Não. Lá se vai o dinheiro das férias de carnaval mas pelo menos os intestinos continuam onde estão.

Introduzo o cartão na máquina, marco o código (por esta altura pergunto-me se seria incorrecto da minha parte pôr-me à frente a tapar o teclado para ele não ver o PIN) e o novo bonequinho do sistema de multibancos deu um salto de alegria. Peço desculpa ao jovem pelo meu nervosismo enquanto penso em que raio de botão está a quantia de 50 euros. Tenho de ir a "outras quantias" diz-me ele. Esta é uma situação delicada. 3 casas para qualquer número entro 0 e 9. O que é que o impede de me obrigar a levantar 55, 75, 250, se está ali tão perto? Pelos vistos integridade profissional. Tiro os 50 euros e a estúpida da máquina pede-me se quero talão. Sim, é isso que eu quero. Um botão de alarme silencioso não, mas se quero passar um certificado para fins de IRS sim se faz favor.

Felizmente ele já devia estar cansado e contente com os 5 minutos de trabalho e nem pediu para saber se tinha mais de onde esse tinha vindo.

"Ok, então está tudo bem. Isto não aconteceu."

"Ok, tá-se bem." - respondi. Não tenho a certeza, acho que o meu cérebro preferiu esconder esta parte por vergonha, mas acho que ainda disse "Fica bem" antes de seguirmos às nossas vidas. A minha claramente mais honesta que a dele.

90% desta história é verdadeira. Para aqueles que acham que lidei a situação como se fosse uma menina de 13 anos... se calhar é o que sou. Tenho um carinho especial pelos Tokyo Hotel afinal de contas.