Ou algo parecido.
Pessoas que me conhecem sabem que, para além de conhecer muitas palavras que não aprendi com a minha mãe de certeza, tenho tendência a usá-las em dias de sol intenso, em frases do tipo de "Foda-se, não consigo ver um caralho". Porque é que eu quereria ver um caralho também não está muito bem esclarecido mas estou a tratar do assunto com o meu psicólogo. Onde eu quero chegar é que a minha tolerância à luminosidade intensa rivaliza a de um albino com agorafobia.
Ora, o que eu precisava mesmo era de óculos de sol e, depois de muito procurar, há uns meses apaixonei-me por um par. A armação fina, o toque subtil de azul, as lentes de tom preto transparente, a forma como assentava simetricamente na minha cara mesmo apesar das curvas pouco ergonómicas do meu nariz. As pessoas diziam que não gostavam deles, e diga-se a verdade, não eram especialmente fabulosos ou caros, mas se os filmes de domingo à tarde na TVI estão certos, o que conta é o interior, e esse, meus amigos, era feito de magia. E plástico.
Outra coisa que as pessoas sabem de mim é que a minha coordenação física não é muito diferente da de um doente nas fases terminais de Parkinson. Acho que o menino Jesus estava ocupado demais a aparecer em tostas mistas quando fez o meu sistema nervoso.
Assim, numa bela tarde de verão na vila de Paredes de Coura, achei que seria uma boa ideia tirar os óculos da cara. Não estava era à espera do espasmo nas mãos que os atirou exactamente para o sítio da estrada por cima de onde um carro tão carinhosamente passou 5 segundos depois. O *crack* doloroso que se ouviu não foi o dos óculos a partir, mas do meu coração a implodir de angústia.
Mas nem tudo estará perdido. Salvaram-se as lentes e acredito sinceramente que posso usar os meus dons de engenheiro para encontrar uma solução:
Segurar as lentes com o poder do sobrolho é mais difícil do que parece. E a expressão facial lembra-me alguém com um problema de obstipação.
"The Batman".
O monócolo. Classe demais. O que eu preciso mesmo é de algo low-tech:
Exactamente!
(Tirar aquela fitacola da cara e do cabelo classifica-se oficialmente como a coisa mais dolorosa que alguma vez fiz.)Apesar disso sobram belas memórias de Paredes de Coura: as amigas e os amigos velhos e novos, os espanhóis que eram portugueses e tinham um xilofone, o sotaque do outro, as rimas fáceis, as bebidas que estavam numa garrafa de sumo, pareciam sumo e sabiam a sumo mas as quais na manhã seguinte eu duvidava seriamente serem sumo, e as minis claro. Etecetera, etecetera. E acho que também houve uns concertos.
Inexplicavelmente, não tenho fotos nenhumas do evento.